sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Filme sobre mineiro Santos Dumont tem releitura poética de cineasta paulista

A figura de Santos Dumont historicamente é envolvida em polêmicas. Teria sido ele mesmo o inventor do avião ou foram os irmãos Wright? Seu suicídio foi provocado por questões morais relacionadas ao uso do avião como máquina de guerra, como afirmam alguns, ou foi mesmo consequência de um amor homossexual não correspondido, como dizem ouros? Mais recentemente, o escritor e historiador Leandro Narloch jogou ainda mais lama na hélice do avião com seu livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, onde levanta novas questões sobre o velho inventor mineiro. Entre elas, a de que Dumont teria o hábito de sabotar seus próprios balões, antes de determinadas apresentações, jogando depois a culpa sobre seus desafetos competidores. Verdade ou não, trata-se de um riquíssimo personagem. Agora, mais uma questão sobre Santos Dumont é levantada. E, desta vez, pelo cinema: foi descoberto que o aviador brasileiro foi protagonista de um dos primeiros filmes da história. O caso é esmiuçado no filme Santos Dumont – Pré-Cineasta?, exibido na noite de quinta-feira na 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes (MG). Primeiro longa do cineasta e pesquisador paulista Carlos Adriano, o documentário nasceu a partir da descoberta e da restauração de um raro carretel de fotografias produzido em Londres, em 1901. Trata-se de um sistema pioneiro de captação de imagens chamado Mutoscope, uma espécie de pré-Cinematógrafo, criado na Inglaterra num momento em que a projeção através de película ainda não estava desenvolvida e a sensação de movimento se dava por meio de uma rapidíssima exibição de fotos em papel, em sequência rotativa. Técnicas a parte, o fato é que foi descoberto, num canto qualquer do Museu Paulista da USP (o popular Museu do Ipiranga), um destes carretéis de fotos onde se observa nitidamente Dumont exibindo seus projetos para Charles Stewart Rolls, engenheiro que mais tarde se tornaria um dos criadores da Rolls-Royce. São pouco segundos destas imagens históricas. Mas o suficiente para o sempre experimental Carlos Adriano desenvolver sobre elas um atrativo painel documental que abrange não apenas depoimentos com importantes historiadores e curadores pelo mundo, como também comentários visuais que promovem a ligação de Dumont com outros pioneiros do cinema. Principalmente com o genial Méliès. São metáforas fílmicas e visuais manipuladas pelas modernas técnicas de edição que trazem o passado para o presente abrindo olhares para as mais diversas leituras e interpretações. Pelas lentes de Adriano, as engrenagens dos elevadores da Torre Eiffel podem nos remeter aos carreteis de um velho projetor de cinema. Ou um simples gesto de mão de Dumont ganha novos significados por meio de uma montagem criativa. Isso só para citar alguns entre infinitos exemplos que se multiplicam dentro de um filme provocador. O diretor aproveita ainda a sua rica miscelânea iconográfica para prestar homenagem ao produtor do filme, Bernardo Vorobow, falecido no ano passado.

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