domingo, 13 de março de 2011

O voo de Amélia Earhart

O jornal O Globo publicou esta semana, foi quarta-feira, 9, a notícia de que teriam sido encontrados nas águas do Pacífico, imediações da Ilha de Papua-Nova Guiné, os destroços do avião Electra 10-E, que era pilotado pela aviadora norte-americana Amélia Earhart, quando desapareceu no dia 2 de julho de 1937. Amélia Earhart, que tinha 40 anos de idade, foi a mais famosa aviadora do seu tempo e este raid em torno do mundo teve escala em Natal, aqui chegando, vindo de Miami, no dia 7 de junho daquele ano, pernoitando na cidade (que recebeu dela muitos elogios) e seguindo viagem no dia seguinte, atravessando o Atlântico no rumo de Dacar, na África. Desde o seu desaparecimento, há 74 anos, todas as tentativas de busca para localizá-lo foram em vão. A matéria publicada no Globo é baseada numa reportagem do jornal “The Independent”, de Londres. Destaco dois trechos:

- Durante 74 anos, o destino de Amélia Earhart, a piloto americana que desapareceu sobre o Oceano Pacífico enquanto tentava dar a volta ao mundo, tem sido um dos grandes mistérios da aviação. Ela ficou sem combustível e pousou o avião no mar? Foi comida por caranguejos após passar anos como náufraga em uma ilha isolada? Foi capturada e executada como espiã pelos japoneses? Ou retornou secretamente aos EUA e assumiu nova identidade?
- Todas essas teorias, e muitas outras, foram lançadas desde que esta pioneira da aviação e seu navegador, Fred Noonam, deixaram de fazer contatos por rádio em julho de 1937. Agora, habitantes de Papua Nova Guiné, última parada da dupla antes de seu desaparecimento, afirmam ter encontrado os destroços de seu avião Electra10-E a mais de 70 metros de profundidade em um recife da Ilha de Buca, na região de Bougainville, segundo reportagem do jornal “The Independent”. Amélia Earhart foi uma celebridade. Além de uma das pioneiras da aviação, detentora de vários recordes (primeira mulher a cruzar o Atlântico pilotando sozinha o seu avião, em 1932), foi escritora e a sua vida inspirou outros escritores, foi tema de filmes e canções. O mistério em torno do seu desaparecimento tornou-a num dos grandes mitos do século. Amélia Earhart foi a quarta mulher aviadora a aterrissar em Natal. A primeira, também norte-americana, chamava-se Ann Lindbergh, que pilotava ao lado do marido, Charles Lindbergh. O casal chegou aqui, procedente da África num voo que começou em Paris, no dia 6 de dezembro de 1932. O avião desceu no estuário do Potengi. A segunda aviadora foi outra americana, Laura Ingalls (8 de abril de 1934). Vinha do Rio de Janeiro. A terceira, a francesa Marise Bastié, no dia 30 de dezembro de 1936, procedente de Dacar. Voltou duas vezes a Natal.

Amélia encantou-se com Natal

Em seu livro História da Aviação no Rio Grande do Norte, Paulo Viveiros (há uma edição publicada pela UFRN em 2008; a primeira, com capa de Newton Navarro, também pela UFRN, é de 1974) conta sobre o projeto de Amélia Earhart de realizar a sua viagem ao redor do mundo. A primeira tentativa era partir da Califórnia, na costa Oeste dos Estados Unidos, no rumo do Honolulu, depois alcançar a Austrália e daí chegar à costa ocidental da África atravessando a Arábia. A etapa seguinte voar sobre o Atlântico Sul e chegar ao Brasil. Mas a viagem foi interrompida por conta de um acidente em Honolulu. Amélia voltou para a Califórnia. Era 19 de maio de 1937. Paulo de Viveiros narra: - A 1º de junho, com Fred Noonam, como navegador, partiu de Miami com destino a Porto Rico e Paramaribo. De Paramaribo alcançou Fortaleza e, posteriormente, Natal, a 7 de junho de 1937, pelas 6h55. Hóspede do sr. Scottbroock (era o vice-consul da Inglaterra, William Scottroock, que morava no bairro de Petrópolis), a aviadora, no dia imediato, partiu de Parnamirim, às 3h15, para a África, que alcançou em Dacar, depois de 13 horas e 2 minutos de voo sobre o Atlântico.

Continua Paulo Viveiros:
“De Dacar, atravessou a África Central, alcançou o Mar Vermelho, chegou à Arábia, foi a Karatchi, visitou Moussons, passou sobre d’Akyab, viu Singapura, esteve na Austrália e chegou à Nova Guiné a 2 de julho. De Nova Guiné partiu para Oawland sob uma rota desconhecida por aviadores e desapareceu...”

O autor acrescenta que a aviadora deixou os detalhes sobre o voo que foram enfeixadas depois num livro que recebeu o título de Last Flight, publicado por seu marido, Palmer Putnam. Paulo Viveiros destaca ainda as impressões de Amélia Earhart sobre Natal: “Com os aviões franceses, alemães, brasileiros e americanos, que vão e vem constantemente, Natal é o mais cosmopolita dos aeroportos do nosso hemisfério e o que onde se fala o maior número de línguas. Nessa parte do Brasil, o sol é vermelho e semelhante ao de Geórgia e da Virgínia”. E disse mais:“Todo mundo em Natal me obsequia”. Bem que Amélia Earhart merece ter o seu nome numa rua de Natal, um ruazinha, dessas deliciosamente surburbanas, um canto de pracinha, ou um desses “largos” que a inventiva mídia natalense gosta de nominar algum pedaço de via publica por estas bandas potiguares: “largo do Ateneu”, “largo do Teatro”, “largo Dom Bosco”. “largo da Frei Miguelinho”. Essas bossas. Pois, então, de verdade: Largo Amélia Earhart. Por falar em mídia, é bom que se diga que Paulo Viveiros escreveu sua História da Aviação no Rio Grande do Norte baseado em reportagens que produziu para jornais de Natal e de Recife. Antes de se tornar num dos mais importantes advogados do Estado, Paulo Viveiros foi repórter. Algumas dessas reportagens sobre a presença de aviadores estrangeiros em Natal, realizando as primeiras travessias entre a Europa-Africa-Brasil, foram publicadas no Jornal do Commercio de Recife. Ao seu trabalho jornalístico, juntou novas pesquisas e depoimentos. É um livro importante para se conhecer boa parte da História de Natal.
O voo na poesia
O avião sobrevoando Natal está na poesia de Jorge Fernandes, o primeiro poeta modernista do Rio Grande do Norte. Escreveu três poemas que estão no seu Livro de Poemas, publicado em 1927: Novecentos e cinquenta cavalos suspensos nos ares.../ - Besouro roncando: zum... zum... umumum... / Aonde irá aquêle Rola-Titica parar? // E os olhos dos caboclos querem ver os Marinheiros / Os peitados vermelhos das Oropas... / E a marmota vai: ron... ron... cevando o vento - / Por cima dos coqueiros, varando as nuvens... // Depois desce no Rio Grande numa pirueta danisca / Desembestado, espalhando a água... E ficando batendo o papo, cansado de voar.

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