quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um ano depois, Air France esconde causas do acidente

O Airbus 330 que desabou em algum ponto do Atlântico entre o Brasil e a Europa, há um ano, deixou 228 mortos e cicatrizes profundas em mais de mil pessoas - familiares das vítimas.
Pilotos da Air France chegam ao cemitério Père Lachaise para participar de inauguração de monumento em homenagem às vítimas
 
A queda foi um acidente. Acidentes acontecem e não são previsíveis. Ninguém queria derrubar o avião. O acidente faz parte do risco, da magia de voar, de colocar no ar um gigante de centenas de toneladas. Há 20 ou 30 anos, a primeira providência de uma companhia aerea depois de um acidente era tapar com longos panos a identificação da aeronave, o nome e o símbolo da empresa. Pensavam que com isso a opinião pública não estaria tão desfavorável. Como se dependesse da foto para o cidadão entender de que companhia se tratava. Hoje não é preciso apelar para tanta asneira. Uma companhia assume a responsabilidade, aciona sua companhia de seguros e ainda dispara uma estratégia de marketing para diminuir o impacto da queda.  A Air France fez isso. Instalou de imediato uma central de crise no Rio de Janeiro - de onde partiu o vôo AF 447 - e outra em Paris - seu destino final. Desde então procura manter boas relações com os familiares da vítimas, inclusive oferecendo deslocamentos sem custos para as cerimônias, como a missa ocorrida na Catedral de Notre Dame, segunda-feira.  Só em um detalhe a Air France peca: não revela as causas do acidente.  Seria muito ingênuo imaginar que com toda a tecnologia disponível uma mega companhia como a Air France ainda desconhecesse as causas do acidente. É o mesmo que a equipe Williams de Fórmula-1 até agora afirmar desconhecer os motivos que fizeram o brasileiro Ayrton Senna espatifar-se contra um muro em Ímola, na Itália, em 1994. A telemetria online de seu carro revelou tudo, inclusive a falha da própria equipe em um remendo mal feito na barra da direção. A telemetria de um Airbus é ainda mais sofisticada. Ou seja, a Air France certamente conhece as causas do acidente desde o fatídico 01 de junho de 2009. Já se especulou por todos os lados, mas a companhia segue afirmando que sem as caixas-pretas - perdidas em algum lugar do fundo do oceano - não pode afirmar nada.
Bobagem. Pura deselegância francesa. Os familiares das vítimas sabem que nunca mais irão rever seus parentes. Não há o que fazer. Mas querem entender o que houve. Se, por exemplo, é verdade que os sensores de velocidade falharam - falha apontada por investigadores autônomos como a responsável pelo acidente. Talvez entender o tamanho do problema para evitar que novas tragédias ocorram. Verdade que os vôos da Air France estão lotados outra vez. Não há sinal de prejuízo na marca francesa um ano depois da tragédia. A TAM enfrentou dois terriveis acidente em torno do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e consolidou-se como a maior empresa aérea da América Latina. Mas é preciso explicar, contar a verdade. Os familiares das vítimas merecem um pouco de elegância.
02-06-2010

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