Duas empresas criadas pelo comandante Rolim tiveram destinos diferentes: a TAM se tornou a maior do País, mas a Sete só agora ganha força para crescer
Por Paulo Brito
O empresário Luiz Vilella, 58 anos, não consegue esconder a alegria quando fala sobre os planos para a Sete Linhas Aéreas, companhia de sua propriedade sediada em Goiás. A empresa acaba de receber o primeiro de três EMB Brasília, um avião de 30 lugares fabricado pela Embraer, inaugurando uma nova fase de crescimento. “Vamos voar para Palmas (TO) e Altamira (PA)”, diz o empresário. Quem o vê fazendo previsões modestas para os padrões da aviação brasileira não imagina que sua história se confunde com a de um dos mais lendários empreendedores do setor no País: o comandante Rolim Amaro (1942-2001), fundador da TAM.
Pronto para a decolagem: Araújo (a esq.) e Vilella, com o primeiro dos três Brasília encomendados pela Sete
Além de criar a TAM, Amaro fundou, em 1976, a Sete Táxi Aéreo, que, na época, explorava a aviação executiva. Mas, na década de 80, Rolim preferiu vender a Sete para Vilella e se dedicar exclusivamente à TAM. O final da história todos conhecem: a TAM tornou-se uma gigante, líder de mercado, enquanto o grupo Sete (formado pela Sete Táxi Aéreo e a Sete Linhas Aéreas) não é nem uma fração da empresa controlada pela família Amaro. Hoje, a primeira transporta perto de 2,5 milhões de passageiros por mês e a segunda apenas três mil (leia quadro). Fundadas pelo mesmo empreendedor, as empresas, definitivamente, trilharam caminhos completamente diferentes. Ao que se deve isso? “O Rolim sempre foi muito mais agressivo nos negócios do que eu”, diz Vilella sobre o seu estilo de gestão. E prossegue: “Se eu fosse fazer tudo de novo, talvez fosse mais agressivo, talvez me aventurasse mais. Acabamos de comprar um Brasília, mas se fosse o Rolim ele já estaria encomendando mais 20”, diz Vilella. O empresário relembra uma passagem que revela muito do arrojo de Rolim. “Certa vez, ele me disse que, depois de comprar seu primeiro Fokker, passou um dia inteiro com dor de barriga, de nervoso. Outra vez, num almoço, contou que, pelo terceiro mês consecutivo, pagava os salários dos funcionários com dinheiro do banco e que o crédito estava acabando”, relembra. “Sou mais prudente. Não passei por isso.” Mas Vilella também não viu sua empresa decolar como a de Rolim, que buscou mercados mais disputados, como o paulista. Afinal, o risco que se corre em qualquer negócio serve tanto para o mal como para o bem. Vilella tornou-se amigo de Rolim de tanto se cruzarem nos aeroportos brasileiros: ele, transportando executivos do Frigorífico Bordon entre São Paulo e as fazendas da empresa. Rolim transportando tudo o que era possível embarcar nos seus pequenos Cessna. “Até porco vivo ele levava nos aviões”, diz Vilella. A Sete Táxi Aéreo possui hoje 13 aviões, enquanto a Sete Linhas Aéreas, que faz voos de Goiânia para 14 cidades do Pará e Tocantins, conta com seis. Mas isso, diz Ériston Araújo, sócio de Vilella, vai mudar. “Os novos aviões vão nos ajudar a dobrar o número de passageiros que transportamos”, conta Araújo. “Acredito que no final de 2011 a demanda de passageiros exija que a nossa frota cresça para dez aviões”, explica.
O investimento nos três Brasília consumirá US$ 6 milhões. “A Sete está em transformação e aproveita um excelente momento do mercado”, diz Paulo Sampaio, diretor da consultoria Multiplan. “Isso inclui uma ligação inteiramente nova entre Goiânia e Belém, que aumentou muito sua rentabilidade”, diz. Hoje, as companhias regionais estão divididas em dois grupos. “Em um deles estão Trip, Passaredo e Pantanal, que devem responder por 93% do mercado, enquanto as outras disputam o restante”, diz Sampaio. “As estatísticas mostram que as empresas aéreas regionais brasileiras crescem, em média, a uma taxa de até duas vezes e meia a do PIB”, conta André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company. “Neste ritmo, nos próximos 20 anos, esse setor vai triplicar de tamanho”, calcula o consultor. Para aproveitar esse momento, entretanto, é preciso contar com a sorte. “Sobre isso, o Rolim dizia o seguinte: Todas as vezes que a sorte o procurou na empresa, entre as 8 da manhã e as 6 da tarde, ele estava lá”, diz Vilella.
ISTO É DINHEIRO19-09-2010
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