sábado, 8 de janeiro de 2011

Diplomatas americanos detalharam precariedade na criação da Anac, segundo WikiLeaks

Em abril de 2007, o então embaixador americano, Clifford Sobel, que sucedeu John Danilovich, fez uma avaliação desabonadora do desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que iniciava seu segundo mandato, no enfrentamento dos problemas do setor de transporte aéreo. Em telegrama divulgado pelo WikiLeaks ao GLOBO, Sobel dizia a seus pares do Departamento de Estado que estava entusiasmado com a intenção da Federal Aviation Agency (FAA, na sigla em inglês) de instalar uma representação no Brasil. E justificava-se: "Bilateralmente, essa presença permitirá à FAA trabalhar junto para ajudar o governo brasileiro a resolver a crise no controle do tráfego aéreo, com treinamentos e troca de informações." Em seguida, lembra que o Brasil vinha sofrendo com problemas no setor desde o colapso da Varig, em 2006, e que a situação havia se agravado com o acidente do Boeing da Gol, em setembro daquele ano. Cita a greve dos controladores aéreos e o caos que tomava conta dos aeroportos em feriados e finais de semana. Por isso, diz ele, tornou-se corrente no país definir a situação do setor aéreo como "crise".
'Nenhum sinal de avanço' para aviação civil
"A situação da aviação civil não mostra qualquer sinal iminente de avanço, tanto que os problemas se repetem desde o ano passado, principalmente em períodos de maior tráfego", escreve o embaixador. "Nos últimos anos, as viagens aéreas no Brasil têm crescido dramaticamente, sem o correspondente aumento do orçamento do governo para o setor e dos investimentos em infraestrutura de aviação." A criação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em março de 2006 também foi objeto de acompanhamento pelos americanos. Em telegrama postado naquele mês, Patrick Linehan, alto funcionário da embaixada em Brasília, destaca que a nova agência fora "formalmente inaugurada" sem que o governo tivesse definido de onde sairiam os recursos ou onde seria a sua sede. Em encontro com diretores da Anac e de outros órgãos do governo - como a Infraero - Linehan diz ter ouvido que havia muitas dúvidas sobre as funções e o poder da agência. "Há preocupação em outros órgãos do governo de que a Anac invada suas áreas de atuação. E entre os dirigentes da Infraero, a paraestatal que administra os aeroportos brasileiros, há preocupação de que a Anac vá dividir o orçamento e poder político", pontua Linehan. Noutro telegrama, o diplomata Phillip Chicola revela a precariedade da criação da Anac. Ele diz ter se encontrado com Denise Abreu e Leur Lomanto, então diretores da agência, que manifestaram intenção de viajar aos EUA para estreitar os laços com a FAA. E conta que eles disseram que um convite formal da embaixada os "ajudaria a justificar junto ao governo a liberação de recursos para custear a viagem". 
  • AGENCIA O GLOBO
08-01-2011

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