Das mãos dos funcionários encapuzados, que montam pratos em série numa cozinha industrial, ao sorriso cordial de uma aeromoça a dez mil metros de altura, a comida de avião percorre grandes distâncias. Para, quase sempre, encontrar mais passageiros de caras fechadas que com água na boca. Acompanhadas pelo indefectível suco de laranja ou por vinhos até bons, as refeições de bordo polarizam discussões na internet, recebem críticas de nutricionistas e são motivo de preocupação nas companhias aéreas, que tentam buscar novidades. Até chefs renomados, donos de coleções de estrelas Michelin, costumam ser convocados para criar cardápios nas classes mais privilegiadas. Enquanto isso, na econômica, um oferta bem mais simples e pouco variada continua desanimando os passageiros em voos intercontinentais. Pelos depoimentos de jornalistas do GLOBO que registraram o que vem servido após à fatídica pergunta “chicken (or beef) or pasta”, agradar aos cerca de 300 comensais a bordo é uma missão difícil, quase impossível.
Para nutricionistas, boa digestão é mais importante que o sabor
A queixa mais comum em relação à comida de avião é que falta sabor. Para os nutricionistas, porém, essa é uma questão menos importante. Os menus deveriam priorizar a fácil digestão para não tornar as longas viagens ainda mais cansativas.
Carne vermelha, ovo, laticínios, frituras e doces costumam ser mais gordurosos que frango e peixe, molho de tomate e frutas, por isso deveriam ser evitados nos cardápios aéreos. Vegetais como brócolis, couve-flor, repolho, cebola crua, pepino, pimentão verde cru, lentilha e ervilha seca também produzem gases, e, assim como refrigerantes e água gaseificada, não são bons companheiros de viagem. Para um melhor sono, mais carboidratos e menos proteínas. Então, se a aeromoça oferecer “chicken or pasta” no jantar, prefira a segunda opção. E torça para que o molho seja de tomate, mais seguro que os cremes à base de queijo. Após a refeição, nada de café, peça chá. Essas são algumas das recomendações feitas pela professora do Instituto de Nutrição da Uerj, Fabiana Bom Kraemer:
"De maneira geral, as empresas costumam ter um controle rigoroso na higiene dos alimentos, mas acho que mais opções poderiam ser oferecidas. Sanduíches com pães integrais, hortaliças cozidas e frutas desidratadas são boas opções. Além disso, uma menor oferta de alimentos ricos em sal e gorduras (amendoins, batatas e biscoitos industrializados) deveria ser considerada", explica. Pessoalmente afetada pela restrição a alimentos com glúten, a nutricionista Patrícia Davidson vê na questão das dietas controladas um ponto crítico do serviço de bordo: "Há inúmeras falhas, mas a principal é a falta de conhecimento dos comissários e alguma desorganização. Às vezes, a companhia oferece o cardápio especial no jantar, mas serve o café da manhã sem as restrições. Já briguei em voos várias vezes por causa disso. Hoje levo o que pretendo comer a bordo". Para quem gosta de beber cerveja ou vinho a bordo, recomenda-se moderação. Além de ter seu efeito potencializado nas alturas, o álcool pode desidratar o corpo, assim como amendoins e salgadinhos. A desidratação é um dos fatores causadores da trombose venosa profunda, doença que pode levar à morte e é provocada pela formação de coágulos no interior das veias, que pode ocorrer durante ou após longos períodos de imobilidade, comuns em viagens internacionais.
Números grandiosos que saem de cozinhas industriais
A queixa mais comum em relação à comida de avião é que falta sabor. Para os nutricionistas, porém, essa é uma questão menos importante. Os menus deveriam priorizar a fácil digestão para não tornar as longas viagens ainda mais cansativas. Carne vermelha, ovo, laticínios, frituras e doces costumam ser mais gordurosos que frango e peixe, molho de tomate e frutas, por isso deveriam ser evitados nos cardápios aéreos. Vegetais como brócolis, couve-flor, repolho, cebola crua, pepino, pimentão verde cru, lentilha e ervilha seca também produzem gases, e, assim como refrigerantes e água gaseificada, não são bons companheiros de viagem. Para um melhor sono, mais carboidratos e menos proteínas. Então, se a aeromoça oferecer “chicken or pasta” no jantar, prefira a segunda opção. E torça para que o molho seja de tomate, mais seguro que os cremes à base de queijo. Após a refeição, nada de café, peça chá. Essas são algumas das recomendações feitas pela professora do Instituto de Nutrição da Uerj, Fabiana Bom Kraemer:
"De maneira geral, as empresas costumam ter um controle rigoroso na higiene dos alimentos, mas acho que mais opções poderiam ser oferecidas. Sanduíches com pães integrais, hortaliças cozidas e frutas desidratadas são boas opções. Além disso, uma menor oferta de alimentos ricos em sal e gorduras (amendoins, batatas e biscoitos industrializados) deveria ser considerada", explica. Pessoalmente afetada pela restrição a alimentos com glúten, a nutricionista Patrícia Davidson vê na questão das dietas controladas um ponto crítico do serviço de bordo: "Há inúmeras falhas, mas a principal é a falta de conhecimento dos comissários e alguma desorganização. Às vezes, a companhia oferece o cardápio especial no jantar, mas serve o café da manhã sem as restrições. Já briguei em voos várias vezes por causa disso. Hoje levo o que pretendo comer a bordo". Para quem gosta de beber cerveja ou vinho a bordo, recomenda-se moderação. Além de ter seu efeito potencializado nas alturas, o álcool pode desidratar o corpo, assim como amendoins e salgadinhos. A desidratação é um dos fatores causadores da trombose venosa profunda, doença que pode levar à morte e é provocada pela formação de coágulos no interior das veias, que pode ocorrer durante ou após longos períodos de imobilidade, comuns em viagens internacionais.
Comida de avião também na rede
Em se tratando de comida de avião, gosto não só se discute como se compartilha na internet. Entusiastas do catering (sim, isso existe) e viajantes em geral alimentam páginas especializadas com fotos de pratos e depoimentos. Além de ver como empresas de todo o mundo servem seus passageiros, a certeza: nem sempre a bandeja do vizinho é mais saborosa.
O Airline Meals ( airline meals.net) foi criado há dez anos por um web designer holandês que viajava com frequência para Istambul. Ao fotografar a comida de bordo turca para mostrar para a mãe, acabou começando o site, que hoje tem mais de 22.500 fotos de refeições servidas em 599 companhias aéreas. O carro-chefe da página são as fotos e os comentários dos internautas, dos mais apaixonados (mesmo que por simples sanduíches) aos mais indignados. Tudo é classificado por classe, tipo de refeição, companhia aérea etc. Há fotos de TAM, Gol e Varig, que aparece também numa categoria sobre refeições das décadas de 1950 a 1980. Outras categorias curiosas completam a página, reunindo, por exemplo, fotos de cardápios e bastidores de empresas de catering e cenas de filmes onde aparece serviço de bordo. O sucesso desse site pioneiro fez surgir seguidores, como o Airplane Food ( airplanefood.net), também com grande acervo alimentado por entusiastas do assunto.
Dos cardápios à la carte ao quinto sabor
Menus assinados por chefs estrelados, cardápios à la carte, chá das 17h e alimentos com “novo” sabor. A competição entre as companhias aéreas faz com que a busca por novidades gastronômicas não pare. A partir do próximo dia 14, os passageiros da classe econômica da KLM poderão pagar para ter cardápios mais elaborados que os servidos normalmente. Serão quatro opções, com entrada, prato principal e sobremesa: comida japonesa, asiática, orgânica e mediterrânea, a 15. Os pedidos poderão ser feitos até 48 horas antes do embarque. A companhia holandesa segue uma tendência que vem ganhando força no mercado americano, principalmente em voos domésticos. A Air Canada oferece cardápio à la carte para voos acima de 90 minutos na América do Norte e Caribe. Por aqui, a Gol já oferece opções à la carte nos voos domésticos.
Já os passageiros da classe executiva da Iberia experimentam o novo cardápio elaborado por quatro chefs espanhóis que juntos têm oito estrelas Michelin. O madrilenho Paco Roncero, o catalão Ramón Freixa, o extremenho Toño Pérez e o andaluz Dani García substituem o premiado Sergi Arola. A proposta é modernizar o cardápio, mantendo o “sotaque” espanhol e influência de diversas partes do país.
Outro chef badalado, o inglês Heston Blumenthal, prestou consultoria à British Airways na implantação de um novo sabor aos cardápios da primeira classe e executiva. Trata-se do umami, considerado o quinto sabor (os outros são salgado, doce, amargo e azedo), que lembra o gosto de peixe. Essa não é a única novidade da companhia. Até o fim do ano, todos os comissários de bordo terão iPads para facilitar o atendimento aos passageiros. E desde o ano passado, a empresa serve na primeira classe um chá da tarde, inspirado no cinco estrelas londrino Dorchester.
Surpresa com musse e café básico
Comida de avião ruim é redundância. Comida de avião, ponto, encerra em si a ideia: é difícil, pelo menos na classe econômica, tragar a massaroca indistinguível que a maioria das companhias insiste em nos enfiar goela abaixo. Daí a quase extasiada surpresa com que desfrutei o jantar num voo 8084 (Rio-Londres), da TAM, no final de maio. Entre as opções de prato principal — frango e macarrão ao sugo — escolhi a segunda. Em vez do já previsível penne de aspecto plástico e seco, encontrei uma massa suculenta e razoavelmente saborosa. Diferentes marcas de cervejas e vinhos foram oferecidas, boa notícia para viajantes habituados à mesquinhez de companhias americanas que cobram por bebidas alcoólicas mesmo em voos internacionais. Mas o ápice da experiência gastronômica a bordo naquela noite foi a sobremesa, uma musse de chocolate que se poderia descrever como deliciosa. Tudo servido com presteza, atenção e amabilidade, mas sem afetação, pelos comissários. Durante a madrugada, um carrinho com bebidas foi deixado à disposição dos passageiros, algo que muitas companhias europeias e asiáticas fazem.
O café da manhã, iniciado cerca de 1h30m antes do pouso, tinha frutas, suco e pão, o básico. Não chegou a me revigorar de todo, depois de uma noite maldormida nas estreitas e não muito confortáveis cadeiras da cabine. Nada que tenha estragado a viagem. Esse papel quase coube ao programa de fidelização da companhia, que levou mais de dois meses para corrigir um erro do despacho no aeroporto e computar corretamente as milhas correspondentes ao trecho. Mas isso já é outra história... (Alessandro Soler)
Brocólis, cenouras e cookies
Nos voos na classe econômica da American Airlines que partem do Rio para Dallas, Miami e Nova York, duas coisas nunca surpreendem: o Boeing 767-300 para pouco mais de 200 passageiros não tem tela de entretenimento individual e a comida, bem, a comida, segue o padrão AA de qualidade. Em maio, no voo Rio-Dallas, o AA 250, as opções para o jantar eram frango com ervilhas ou carne com brócolis, cenouras e cebolas e uma batata com aparência de polenta e consistência de pudim. Sempre escolho pasta, a chance de ser algo comestível é bem maior, mas diante do chicken or beef fiquei com a segunda opção. A apresentação do prato não era nenhuma beleza, como dá para conferir na foto ao lado. Não consegui ir além da primeira garfada da carne alta, mas o brócolis e as cenouras, com um pouco de pimenta, estavam corretos.
A entrada era uma singela salada de alface e tomate, acompanhada de uma minigarrafa de água mineral, cream crackers, queijo cremoso, manteiga e pãozinho gelado — tradição na classe econômica de praticamente todas as companhias aéreas, e não apenas da American. E cookies para sobremesa. O vinho, um cabernet californiano esquecível, custou US$ 7. A empresa não aceita dinheiro em espécie, e o pagamento tem que ser feito com cartão de débito do banco ou cartão de crédito. No dia seguinte, o café da manhã veio com salada de frutas, pão com queijo, suco e café. Fiquei nas frutas e complementei a refeição em uma lanchonete no imenso aeroporto de Dallas/Fort Worth, enquanto aguardava a minha conexão para a Costa Oeste. (Carla Lencastre)
Salvam-se as sobremesas
Pão francês, integral, baguete, ciabatta... Não importa qual tipo seja eleito pela companhia aérea, nem se o sanduíche vem com tomate, queijo prato, cheddar ou suíço. Depois de esquentado e embalado, o sanduíche sempre chega às mesinhas murcho e insosso, como aquele de fast food nos 45 minutos do segundo tempo. Será que servido frio, então, resolveria? Pude constatar empiricamente que não, ao provar o sanduíche da classe econômica da LAN num voo São Paulo-Santiago em junho. Considerando que o voo tem pouco mais de quatro horas, parece razoável que se sirva somente um lanche. Mas se o seu voo era para ser direto do Rio e acabou fazendo escala em São Paulo, como o meu, então você esperaria uma refeição mais consoladora. A recompensa acaba vindo na forma de alfajor e biscoitos de chocolate Havanna — a LAN tem parceria com a marca argentina, então, ao menos as sobremesas estão garantidas.
Outra parceria deliciosa é a da American Airlines com a marca de sorvetes americana Ben & Jerry’s. É irresistível pular as recomendações de nutricionistas à oferta de um sundae com frutas silvestres, caramelo ou calda de chocolate na classe executiva, como fiz num recente voo Rio-Dallas em agosto. O sundae é um sucesso, mas a refeição servida a bordo (quase) chega a ser deliciosa, apesar de não muito leve. A começar pela entrada: misto de nozes quentes com queijo marinado. A seguir, rosetas de salmão defumado com blinis de ervilhas e alcaparras. A salada de folhas e legumes parece surpreendentemente fresca. Para o prato principal, opções de carne vermelha (filé grelhado), peixe (salmão), aves (pato à doré com molho de laranja, meu escolhido) ou vegetariana (lasanha de abobrinha, cenoura e brócolis). Saboroso, mas ainda com notas de comida de avião. (Fernanda Dutra)
Ao menos, um pouco de dignidade
Até que não estava tão ruim o tornedor alto, salpicado de pimenta do reino com um molho da família do madeira e acompanhado de croquetinhos de batatas servido a bordo da executiva da United Airlines, em voo para Washington. Mas, para a categoria, estava abaixo da média. Não que seja possível comer muito bem em aviões, mas há viagens em que podemos nos alimentar, ao menos, com dignidade, e isso significa o mínimo: tempero correto, escolha acertada de ingredientes e um serviço completo, que inclua um pão quentinho, boa manteiga, queijos, salada e uma entrada, além de vinhos de boa qualidade — na executiva e na primeira classe, uma carta consistente é fundamental. Com os preços das passagens nas alturas, como estão, isso é o mínimo que se pode esperar.
Entre as viagens mais recentes que fiz, me chamou a atenção a classe executiva da South African Airways. Servido por um garçom simpático como mostra a foto ao lado, tive um jantar, se não de gala, pelo menos melhor do que muitas refeições em solo, em termos de comes, bebes e serviço. Primeiro, champanhe, como deve ser. Para começar, depois de duas tacinhas de Moët & Chandon, uma boa salada de camarões com palmito, com os crustáceos bem cozidos e uma salada de folhas bonita, com juliana de cenoura e pimentões e um vinagrete que levantava a bola do conjunto. Na taça, um bom sauvignon blanc... Da África do Sul, é claro. Em seguida, um honesto tornedor de mignon vinha numa montagem escultural, sobre aspargos verdes, com couve-flor gratinada. Bom, ainda mais na companhia do Zorgvliet Cabernet Sauvignon 2005, um belíssimo vinho. Antes da sobremesa, no melhor estilo inglês, recebi um pratinho de crackers, queijos (cheddar e brie entre eles) e frutas (uvas brancas, damasco, nozes pecan). Encerrei com uma taça de Boplaas Cape Tawny Non Vintage, um belo vinho sul-africano no estilo porto. Dormi como um anjo. (Bruno Agostini)
Comer, voar, relaxar e roncar
O voo na classe executiva da Air France, a Affaires, surpreende antes do embarque. A sala VIP da companhia francesa é um oásis no nosso convalescente Galeão: tem vinho, champanhe, latinhas de Perrier, chazinho da Fauchon, croissants. Já a bordo do Boeing 777-300 descobri que é possível jantar bem e dormir feliz na viagem até o Charles de Gaulle. Enquanto assistia a “Comer, rezar, amar” na tela individual (o filme exibido em maio tinha tudo a ver com o momento), os comissários abriram os serviços com champanhe e vinho — a carta é selecionada pelo renomado sommelier Olivier Poussier.
O jantar teve de entrada foie gras com geleias, salmão defumado e salada de maçã — combinação difícil de dar errado. Como prato principal, aceitei a sugestão do dia: codorna assada com molho de erva-doce e lentilhas. A porção era generosa, bem $que as servidas na classe econômica da Air France, onde costumo me entupir com pãezinhos, servidos à vontade aos passageiros. A codorna não merecia estrela Michelin, mas estava honesta. Mais que satisfeita, pensei que não iria encarar a sobremesa. Mas devorei o trio formado por bolo de chocolate e laranja, tortinha de maçã e abacaxi com amêndoas, que não tinha nada a ver com os doces de aparência não-identificada que costumam vir nas refeições de avião. Tudo isso em pratos de porcelana, copos de cristal e talheres de inox.
Logo senti vontade de dormir. Reclinei a poltrona, transformando-a numa cama, com dois metros de comprimento e 61 centímetros de largura. Como nem tudo é perfeito, o passageiro ao meu lado ficou relaxado demais e roncou até a hora do café da manhã. (Silvia Rogar)
Estereótipos a dez mil metros
Franceses são bons na cozinha. Alemães entendem de cerveja. Certos estereótipos estão sempre presentes, mesmo a mais de dez mil metros de altitude. Foi o que comprovei em duas viagens recentes à Europa, a bordo de aeronaves de Air France e Lufthansa.
Comparando as duas experiências, e até usando lembrança de outros voos nos últimos anos, não tenho medo de dizer que o jantar do trecho Paris-Rio, servido pela Air France, foi o melhor que já me ofereceram numa classe econômica. Começou com uma boa quiche de frios, seguida pelo prato quente. Respondi “pasta” à simpática aeromoça e recebi uma porção de risoni (também chamada de orzo, uma massa em forma de arroz, servida como se fosse risoto) ao molho de açafrão e azeitonas pretas, que me surpreendeu positivamente. Acompanhando a refeição, vinho tinto francês, uma garrafa de água mineral, uma minibaguete e queijo camembert. Muffin de amora e mousse de chocolate fecharam bem o jantar.
Fiquei satisfeito, mas com uma pulga atrás da orelha: por que a refeição do voo saindo da Europa foi tão melhor que a comida servida no trecho Rio-Paris? Não que o frango com arroz e abobrinha, salada de cenoura e presunto e tortinha de maçã estivessem ruins. Estavam bem melhores do que o que foi oferecido pela Lufthansa num voo São Paulo-Frankfurt, por exemplo. Um tipo de presunto com molho à campanha ácido demais de entrada. Quando o comissário me perguntou “beef or pasta”, escolhi o primeiro e me arrependi: uma carne assada meio dura com arroz e legumes insossos. Com direito ao pão frio e borrachudo nosso de cada voo. Na sobremesa, um pudim de leite decente. O ponto positivo foi a cerveja alemã Wasteiner. Leve e quase gelada, mas só bebi uma latinha. Ao contrário do grupo de argentinos ao meu lado, exemplos de como o efeito do álcool é potencializado nas alturas. (Eduardo Maia)
Talher inox e 14 horas de fartura na econômica
As 14 horas do voo São Paulo-Dubai pela Emirates são de fartura na mesinha do assento da classe econômica. Em algum lugar do Oceano Atlântico, a primeira refeição servida é o café da manhã. Os talheres de aço inox com a logomarca da companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos são auxílio luxuoso para partir a rabanada recheada com queijo suíço derretido e peito de peru, servida com carne grelhada. A segunda opção seria omelete de espinafre. Pela reação dos passageiros vizinhos, deu para notar que fiz a escolha certa. Para acompanhar, todos ganharam um croissant incrivelmente quentinho, crocante por fora e macio por dentro. Mais suco de laranja e chá ou café. Três horas depois, as aeromoças de tailleur bege e chapeuzinho vermelho passam oferecendo sanduíches ou frutas, um lanche chamado de “como você preferir” no cardápio em três idiomas (inglês, português e árabe). Descansa um pouquinho e lá vêm mais guloseimas: três tipos de chocolates brasileiros a $gosto. Pode-se escolher um, dois ou até mesmo ficar com os três para comer durante a sessão de cinema na telinha particular. Adiante, quando o dia já está claro e o avião se aproxima da costa, é hora do almoço. Meu pecado foi escolher o frango com molho de mel e limão-galego, que não estava bem cozido. Os vizinhos que escolheram o ensopado de carne à brasileira pareciam mais felizes. O jeito foi comer a saladinha de cenoura, tomate e queijo. Pois nem o pão francês, duro e gelado, salvou.
No périplo da volta, não vi a cor dos lanches. O último almoço foi digno: não repeti o frango e fui de salmão com ervilhas. Para acompanhar, vinho no copo de plástico. Tanto na ida quanto na volta, percebi que as sobremesas da Emirates são calorias que não valem a pena. Antes de cada refeição principal, as aeromoças distribuem cheirosos lencinhos para as mãos em bandejas de prata — detalhe que faz lembrar que você está em um avião das arábias mesmo lá no fundão. (Joana Dale)
Na hora de escolher entre carne, frango ou massa, na classe econômica, prefiro carne: vem razoavelmente macia, envolta naquele molho ferrugem de sempre, alguns legumes para acompanhar —- purê de batatas e abobrinha, no caso. Na Iberia, os pratos não vão muito além disso, acompanhados de vinho espanhol. O jantar foi similar à refeição servida na mesma cabine da Air Canada, no fim de abril. Só que a salada, sempre que vem com pepinos e pimentões, dispenso. O melhor da refeição no voo para Madri foi a sobremesa: musse de maracujá — leve, nem doce nem azedo demais. Na hora do café: sanduíche de queijo e salame frio e suco de laranja ou abacaxi, bolo de forminha e frutas. Sem emoção. Na volta, o sanduíche de ciabatta estava honesto e o kit-kat servido no lanchinho foi quase uma alegria.
No voo da econômica da Air Canada, chamou a atenção a refeição vegetariana pedida pela vizinha — que disse ter gostado do prato encomendada com antecedência: hambúrguer de glúten, legumes, arroz e molho agridoce. O café da manhã veggie veio com tofu, mandioca, champignon, molho de tomate, pão e frutas. Quem embarca na executiva da Iberia recebe um cardápio preparado por quatro astros da gastronomia espanhola: Paco Roncero, Dani García, Ramón Freixa e Toño Pérez, que leva a bordo a diversidade da cozinha do país, com enfoque em sabores do Mediterrâneo, além de uma seleção de vinhos espanhóis. Na Air Canada, o cardápio da executiva traz além de suculentos filés, opções “NutriCuisine”, que significa ingredientes frescos e de excelente qualidade. Destas opções, escolhi o saboroso peixe com molho de ervas e temperinhos caprichados. (Cristina Massari)
"Emergente" sem vantagem
Uma dúvida sempre aparece na hora de comprar a passagem: é melhor pagar um montão de dinheiro para ir de executiva ou enfrentar a econômica e esbanjar após o desembarque? Aparentemente a questão seria resolvida com a opção pela tal econômica plus ou econômica de luxo que as companhias aéreas vêm oferecendo. Puro engano. A experiência mostrou que não vale gastar cerca de US$ 1 mil a mais por uma Rio-Londres-Rio para voar nessa “classe emergente” da British. O espaço nas cadeiras é um pouquinho maior, mas se não pagar para reservar lugar, pode-se cair num “meião”, o que praticamente anula a tal vantagem. Bom, imagina-se que o serviço será também um pouco — mesmo que pouquinho — melhor mas as esperanças acabam ao ser servido o primeiro lanche. O nome oficial do primeiro “petisco” é melhor não lembrar, mas o gosto infelizmente foi marcante: uma espécie de rolinho primavera recheado de cola com uns pedacinhos de galinha. Os outros pratos honraram o pior da tradição gastronômica inglesa. (Helena Celestino)
Para compensar o massacre do fuso, alta gastronomia
Sair às 9h de Londres e desembarcar em Tóquio às 4h (hora local) do dia seguinte, após quase 12 horas de voo, é um massacre. Se você já fez o trecho Rio-Londres no dia anterior então, pode desistir: não há tela touch-screen e lista de filmes novos que salve a pátria. O tempo não passa de jeito nenhum e a diferença de fuso horário deixa a mente apatetada, portanto, só nos resta comer. O cardápio da classe executiva da British Airways é apresentado como um exemplo de “alta gastronomia criado para maximizar o gosto na altitude”. Talvez seja um pouco de exagero, mas não dá para reclamar das refeições a bordo.
O café da manhã, servido cerca de uma hora após a decolagem, é simpático. Smoothie de pêssego e damasco pode ser acompanhado de frutas frescas ou iogurte com nozes, granola e geleia. Os pãezinhos não parecem pedra, como é comum em tantos voos, e seria perfeito se tudo parasse por aí, mas ainda tem o prato principal, que é o ponto fraco da refeição. As opções de ovos mexidos ao estilo britânico (com bacon, salsicha, tomate e batata) ou ovos com queijo e muffin são feiosas. A parte boa é poder se servir à vontade — durante o interminável trajeto — de lanchinhos calóricos mas reconfortantes, como batata chips, sanduíches, chocolates e refrigerantes. Vinhos e café ou chá também ficam à disposição dos passageiros.
A segunda refeição é gostosa e vale provar um dos pratos, mesmo que você tenha beliscado nervosamente o voo inteiro. As entradas são uma salada de pepino e camarão, bem oriental, ou salada de tomate, mozarela e manjericão. Saladinha de folhas com molho vinagrete também acompanha o prato principal. A escolha fica entre filé mignon com feijão verde e batatas cozidas, curry de legumes ou pato defumado. Gâteau de chocolate e sorvete completam a dose de açúcar necessária para aguentar o jetlag, além dos tradicionais queijos e frutas antes do café.
Se isso não for suficiente, resta o álcool. O menu inclui kir royale e dois tipos de champanhe: Lanson Black Label e Ayala Brut Majeur. Os vinhos franceses são o Chablis 2009 (branco) e o Château de La Riviere 2004 (tinto). Os australianos ficam entre o Vasse Felix Sémillion (branco) e o Langmeil Three Gardens.
- Diário de Pernambuco
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